GERAÇÃO PRÉ-ADÂMICA

sexta-feira, 26 de julho de 2013

EVENTO DO PAPA EM REDUTO EVANGÉLICO VAI POR "LAMA" ABAIXO

Lama frustra expectativas de moradores em Guaratiba

Habitantes do bairro enfrentaram transtornos causados pela obra e se prepararam para lucrar com JMJ, mas ficaram só com prejuízos

26/07/2013 - 08:40 - JMJ 2013
Bem em frente ao Campus Fidei, em Guaratiba, a localização da birosca de Lauro dos Santos era considerada privilegiada. A proximidade com peregrinos representaria um aumento substancial de vendas e a chance de melhorar a qualidade de vida da família. Para reforçar o estoque, foi necessário contar com a ajuda de amigos e parentes, que emprestaram seus cartões de crédito para a compra de bebidas e alimentos. Nesta quinta, porém, o sonho de lucrar com a Jornada Mundial da Juventude virou um pesadelo. A transferência da programação da Zona Oeste para Copacabana deixou o comerciante com dívidas, e levou seus clientes para cerca de 50 km de distância dali.

'Esperava vender muito, mas agora só ficou o prejuízo', lamentou Santos. 'Nem sei o que vou fazer agora'.

O comerciante não foi o único atingido pela lama de Guaratiba, que impediu a realização do evento no bairro. Muitos de seus vizinhos conseguiram alugar suas casas para peregrinos, que não irão mais para o local. Além disso, centenas de pessoas arranjaram trabalhos temporários no Campus Fidei. Entre elas, a filha do dono da birosca, Cláudia dos Santos, que seria parte da equipe de limpeza para ganhar R$ 80 por dia nas madrugadas de amanhã a domingo.

'Estávamos contando com este dinheiro', disse Cláudia. 'Durante meses aturamos os transtornos de morar do lado de uma obra enorme. Minha casa chegou a ficar rachada, alguns tijolos da obra que estou fazendo na laje até a caíram. Convivi com o barulho de geradores e máquinas. Apesar de tudo isso, não teremos nenhum benefício. É frustrante.'

Paulo Teixeira esperava vender água e refrigerantes para os peregrinos. Ele investiu R$ 1,5 mil comprando as bebidas:

'E agora, quem vai cobrir este prejuízo? Muitos vizinhos meus alugaram suas casas para receber peregrinos e também vão ficar na mão.
Capivaras e micos afugentados

O corte de árvores no Campus Fidei também foi alvo de reclamações dos moradores, como Flávio Menezes. Além do impacto ambiental, ele criticou o que chamou de desperdício de dinheiro na preparação de uma área enorme, que acabou não sendo aproveitada.

'Minha casa está toda rachada por causa da obra. Eles desmataram uma área gigantesca, que era cheia de bichos. Agora, não vemos mais as capivaras e os micos, que sempre apareciam por aqui. E, pior: tudo isso para nada. É revoltante' salientou Menezes.

O cancelamento da JMJ em Guaratiba também surpreendeu centenas de trabalhadores do Campus Fidei. Vários deles chegaram a chorar por causa da frustração de ter que interromper as atividades. Uma mulher, que se identificou como Nanci, deixou às lágrimas a área próxima ao palco montado para receber o Papa.

'É muito frustrante. Uma decepção muito grande. Quando chegamos aqui, não havia nada. Construímos tudo isso, que virou uma obra sem sentido. Agora vem a parte mais triste: a desmontagem' disse ela, que trabalha no Campus Fidei desde o dia 1º de julho.

Já Marlon Ribeiro, que trabalharia em uma das lanchonetes oficiais do evento, sequer conseguiu entrar no terreno.

'É constrangedor. Já perdi um dia de trabalho, enfrentei o frio, a lama e só vou receber R$ 20 para voltar para casa.'

Atônito, o motorista Pedro Fernandes lamentou que, apesar de tanto trabalho, o Campus Fidei tivesse que ser abandonado:

'Será que eles não sabiam que existe chuva, que essa era uma área de mangue, e que poderia ter muita lama?'


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